Estações das Águas (1972-2003)

Lagoa dos Patos e cercanias! Cenários que, na variação dos ventos, cores e movimentos das águas embalam devaneios, quietude, espantos, sons de pássaros e o que de mais habita e emerge da condição humana. Lugares de moradia, desde séculos, de caminhantes de distantes proveniências. Marcas e marcos cravados na memória de quem foi parido, mergulhou corpo, sentidos e sentimentos nas areias e juncais costeiros, barcos de pesca e de transporte de cargas e passageiros, zarpando em seus sons e apitos, dos ancoradouros de estacas. O prazer de ver, ouvir e imaginar cenas passadas, presentes e futuras, nas enseadas e seus entornos, fecundou nosso empenho de enfeitá-las com nossos versos e melodias. Estações das Águas verteu do zelo em preservar mundos na memória, sobretudo, o sabor, frescor, olor e quentura de suas águas preservadas que nexos milenares do universo garantiram. Não por acaso ou planejamento que Estações das Águas, em sua criação, apresentação1 e registro em CD (2002) ultrapassou o tempo de existência formal do Grupo Os Tapes (1971 – 1986).  Seu início desvela as marcas do contexto sobre nossas palavras e sons: Entre o Mar e o Pampa há uma Lagoa (2ª Califórnia da Canção Nativa, 1972); Barqueiro 1972 (Canto da Gente) e Dança da Lagoa do Sol (1974), composta/assoviada pelo Waldir quando em um veículo escolar subíamos para uma Escola na Serra do Erval, tagarelando e imaginando sons de flautas e chocalhos executados por descendentes dos povos originários celebrando o amanhecer na Lagoa.  Quase uma década depois, nos anos de (1981-1983), velas, pesqueiros, redes, remos, sereias, virações, proas, dunas, enseadas, danças nos terreiros, Felícias, filinhas, Olegários, plantações de cebola, remos, espinhéis, emergem nas cordas dedilhadas ou ritmadas, nas vozes sussurradas ou estridentes de Airton, Claudio, Linck e Otacílio, nascem, entre outras, Versos de Itapuã à São José, Perguntas, Zamba sem Porto, Sussurros e Olegário. Pouco antes, ocorreram expressivas mobilizações desencadeadas por movimentos civis, e instituições públicas engajadas nas lutas em defesa das pautas ambientais da época. Época de participação intensa dos Tapes nestes eventos. As composições desta fase, são inscritas nos Programas de Apresentação e registradas no LP da Gravadora Cantares, dirigida por Martin Coplas em (1982). Entre 1986-1999, Airton Madeira, Otacílio Lopes Meirelles, Silvio Rebelo, de forma intensa e eu (em minhas estadias em Tapes) fizemos uma imersão no repertório e acervo de obras do Grupo. De releituras de clássicos de Os Tapes e de um número expressivo de novas criações, é composto o repertório do Projeto Estações das Águas – o último projeto temático – é concluído e apresentado depois do encerramento das atividades de Os Tapes. O mesmo ocorre com seu registro em CD concluído em 20022. Esta súmula de percursos da Criação, Apresentações e Registro de Estações das Águas a qual resumi para leitura do Mestre de Cerimonia na apresentação em Ijui no ano de 2002, não evitou, talvez pela presença em palco de Airton Madeira, Claudio Boeira Garcia, Darci Dias Pacheco, José Júlio Prestes e Otacílio Lopes Meirelles, conhecidos de várias apresentações do Grupo  em Ijui, que o apresentador, mesmo depois de longa e pausada leitura de meu texto, sem hesitar, entoasse em alto e bom som: Estimado Público! Com vocês! Os Tapes!

1 Apresentado em mais de 20 ocasiões sendo que em três, depois da que ocorreu Ijui em 2002.
2 Airton Madeira e Otacílio Lopes Meirelles, participaram de todas as apresentações, em várias: Gabriel e Ricardo Madeira (filhos de Airton), Darci Dias Pacheco, Jose Júlio Prestes e Silvio Luis Pereira, Paulo Rudi Schneider, Matheus Schneider, Carlos Cazarin Garcia e Gordo Lopes.  No CD de Estações das Águas em 2002: Airton Madeira, Celau Moreira, Claudio Boeira Garcia (Direção Musical) Carlos Cazarin Garcia, Cristiano Garcia (Produção), Gordo Lopes, Mario Barros, Matheus Schneider, Paulo Dorfmann, Wagner Cunha.

🔈 Áudios já catalogados de apresentações ao vivo de Estações das Águas, serão disponibilizados à medida que sejam processados.

Letras

Olho gateado
Letra: Claudio Boeira Garcia. Música: Otacílio Lopes Meirelles e Ronaldo Ramos Linck

O sol
Lambe manso
O silêncio
A manhã
O olho
Gateado
Grelado
A espreita
Do peso
Subindo
O olho
Grudado
A mão
Espremendo

O sol
Lambe manso
A água
O bote
O olho
Calado
Cansado
O lombo
Da onda
Dançando
O brilho
Dourado
Do dia
Clareando

Perguntas
Letra: Cláudio Boeira Garcia. Música: Airton Kickhöfel Madeira, Otacílio Meirelles e Ronaldo Ramos Linck

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Um dia me perguntei
Porque ser eu pescador
Se sina de pai pra filho
Se de Deus nosso senhor

Procurei na estrela mais bela
Na figueira mais antiga
Nas areias brancas da praia
Nos versos de todas as cantigas

O vento mudou de rumo
O peixe voltou pro mar
O barco virou carcaça
E eu sempre a me perguntar

A lagoa
Cláudio Boeira Garcia e Otacílio Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Rios sangas
Caracóis seixos

Na margens ecoa
O grito do jaçanã
O canto das tarrãs
O lamento do urutau

Orquídeas figueiras
Cachos butiazais
Enseadas areais
Aguapés juncais

Entre espumas e conchas
Águas vazantes enchentes
A gaivota pousa voa

Cercando as ilhas
O revoar das garças
O ronco dos cisnes
O rasante dos biguás

Cristalinas vertentes
Palmas coqueirais
Ressacas remansos
Brisas brumas

Entre ventos e ondas
Praias croas correntes
A gaivota pousa voa

Olegário
Otacílio Meirelles

Lá vai Olegário
Arquejando pelas sombras
Vem de rotas perdidas
Sem forças, remos e velas

Lá vai Olegário
Malhas de rede no rosto
Escamas e barbatanas nas mãos
Tranças e amarras no andar
Fisgadas de anzóis no coração
Ondas de morte no corpo
Marés de angústia abordando o leito
Junto a velha companheira
Que lhe esquenta e afumenta o peito

Quem há de um dia chegar
Por onde estes braços pescaram
Quem haverá de olhar
O peixe que estes olhos olharam

Trolha
Otacílio Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

O motor batendo
No bote o traquete
Vai estendendo um arco
O barco
De bom toso
Boca larga
Vem rangendo vem

Puxa a ponta
A trolha vem
Vem tremente vem
Vem cercando vem
Vem de arrasto vem
Vem chegando vem

Miragaia
Linguado badejo
Pampo caçonete tainha
Bagre guri
Camarão siri
Sardinha savelha corvina
Vem vem vem…

Voga mandim
Traíra viola
Cascote tambica piava
Papa-terra
Grumatã pintado
Peixe-rei dourado joana
Vem vem vem…

Vem chegando vem
Piracema
Vem chegando vem
Piracema
vem chegando vem
Piracema…

Proeiro
Otacílio Meirelles

Linha de fundo e espera
Anzol empate e chumbada
Carretilha corredeira
Caniço de estirada

Fateixa espinhel fieira
Boia de cortiça atada
Mão pra fisgada certeira
Braço bom pra tarrafada

Homens de popa e carancho
Proeiro destes costados
Entre sol e frio navegam
Céu aberto Céu fechado

O suor cai entre as águas
O peixe some nas salgas
E assim vão pescando a lagoa
Com suas mãos pescadoras

Cordas parelhas de redes
De pontos e malhas variadas
Malhas singelas solteiras
Feiticeiras entrelaçadas

Cascos e bordas inteiras
Leme bom proa elevada
Quilha e popa despacheira
Mastro Adriças Velas içadas

Felícia
Cláudio Boeira Garcia e Otacílio Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Feliz Felícia
Forte Felícia
Frágil Felícia
Canta Felícia
Chora Felícia
Sonha Felícia
Vive Felícia

Bóia fria
Pau pra toda obra
Cerca viva
Rosa na janela

Meia-água
Parede e meia
Pés na areia
Mãos tecendo redes

Mãe de todos
Ombro pra chorar
Dedo em riste
Olho de rainha

Faz a lida
O peixe charqueado
Lava a roupa
Cuida a vida

Sinais
Otacílio Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Ir lançar as redes
Cada vez mais lá
Sumir nas águas
Cada vez mais lá
Homens de olhos cansados
De singrar o mar

Ir a colher as redes
Cada vez mais lá
Nascer das águas
Cada vez mais lá
Homens de olhos cansados
Dos confins do mar

Todas as madrugadas
Nas noites turvas
Do ancoradouro
Estudam o tempo
O rolar das ondas
O rumo dos ventos

O aviso das nuvens
Os sinais das estrelas
Segredos e saber
Revelados na hora
De partir pro mar

Pode uma reviravolta
Turvar as águas
Apagar a vista
Desnortear a rota
Agitar os ventos
Revoltar as ondas
Avariar o barco
Naufragar a volta
Fé e respeito
É sagrado na hora
De partir pro mar

Teus olhos
Otacílio Meirelles e Miguel Luiz

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Olhos longe horizontes
Barcos velas seguem orças
A bombordo a boreste
Nos teus olhos meu amor

Águas doces cristalinas
As verdes águas salinas
Nos teus olhos de menina
Lua nova lua cheia
Faz ressaca faz marés
Nos teus olhos de mulher

Olhos longe horizontes
Barcos velas sotavento
Vento largo barlavento
Nos teus olhos meu amor

Brisa mansa vento bravo
Praia à dentro praia à fora
Nos teus olhos de senhora

Mar fechado mar aberto
Bate as ondas vão-se as vagas
Nos teus olhos rasos d’água

Olhos longe horizontes
Barcos velas cruzam nuvens
Vão zarpando aportando
Nos teus olhos meu amor

Luz de estrelas paz de auroras
Céu turquesa sol brilhante
Nos teus olhos de amante

Noites claras noites turvas
Calmarias tempestades
Nos teus olhos de saudades

Bailarinos de águas e ventos
Letra: Claudio Boeira Garcia. Música: Otacílio Lopes Meirelles e Ronaldo Ramos Linck

Ventania
Girassol
Mato preto
Graxaim

Barba negra, curral velho
Vitoriano, Zé Martim

Bailarino conquistador
Rumo a tuneras e desertor
Milionário prosperador
Na barra falsa e no barquinho
Sonho de outro e pererê
Na flor da praia Arambaré

Capivaras
Bojuru
Gavião Negro
Tatuí

Calafati Camaquã
Canal novo e Lami

Dançarino imperador
Rumo a quilombo e varalzinho
Milionário prosperador
Na barra falsa e no barquinho
Sonho de ouro e do pererê
Na flor da praia Arambaré

Zamba Sem Porto
Cláudio Boeira Garcia

Se foi o barco
Com as esperanças
Foram-se as redes
E o madrugador

Qual
Barco sem leme
Igual
Pano sem tralha

Em caminhos
De ondas
De ventos
De solidão

Naufrago proeiro
Dum barco pequeno
Em tanta distância
Dum porto ilusão

Adeus as águas
Turvas lembranças
Olho mareado
Do navegador

De amores
Otacílio Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

A onda rolou dançou
Com meu amor eu rodei
A maré subiu baixou
Nos teus braços naveguei

O sol nasceu clareou
Nos teus olhos eu me vi
A bruma abriu fechou
Na tua mão me perdi

Vento veio assobiou
De alegria eu cantei
A chuva caiu molhou
No teu corpo naufraguei

A lua cresceu minguou
No teu peito eu dormi
A brisa gemeu chorou
De amores eu morri

Entre o mar e o pampa
Cláudio Boeira Garcia

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

No ancoradouro dos juncais
Um olhar no amanhecer
Se estendeu brilhando
Nos verdes dos arrozais

Águas e campos
Dumas e montes
Abrindo horizontes
Desvendou as nuvens
Desbravou os ventos

Buscou os remansos
Se entregou praia à fora
Misturou-se às ondas
Se perdeu nas auroras
Divisou as águas
Navegou as correntes
Demarcou as estrelas
Ancorou nas lonjuras

Cheiro das algas
Perfume dos pastos
Sentindo a vida
Escolheu encostas
Deitou junto a brisa

Nativo amante
Praia barco areal
Cantando na noite
Despertou a lua
Fez o sol chegar

Buscou os remansos
Se entregou praia afora
Misturou-se às ondas
Se perdeu nas auroras
Divisou as águas
Navegou as correntes
Demarcou as estrelas
Ancorou nas lonjuras

Entre as águas
Cláudio Boeira Garcia e Otacílio Meirelles

Na enseada do rincão
Quando maio aparecia
Pelas frestas do Galpão
Junho já se pressentia

Gente colorindo os campos
Colheitas nos cebolais
Brisa assoviando nas dunas
Ondulando os arrozais

Branca areia terra boa
Preto Barro pantanal
Claros olhos corpos pardos
Águas doces / Ondas e Sal

Corações temperados
Cheiro de mar gosto de Sol
Verões de amores n’areia
Flertes banhos no pontal

Ao chegar dão-se as mãos
Enlaçam-se aos abraços
E o beijo cai no compasso
Balanço do coração

Verão
Cláudio Boeira Garcia

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Sussurros
Na imensidão das águas
Desenhos de algodão
Azul azul
A brisa da pele
Lábios cristais
Verão
Beijos quentes sol
Suores gosto sal
Cálices de mel
Brindes com o mar
Navegar navegar navegar

Murmúrios
Na amplidão dos olhos
Segredos da paixão
Azul azul
A brisa a pele
Lábios cristais
Verão
Beijos quentes sol
Suores gosto sal
Cálices de mel
Brindes com o mar
Navegar navegar navegar

A dor do poema
Cláudio Boeira Garcia e Otacílio Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Rebelde e cansado
Verso entranhado
Nas correntezas

Escorrem as águas
A viola rola nas manhãs
Os poemas aquecidos no sol
Ferem as noites
A lua as estrelas

Distante a rima que quero
O tom que procuro
A voz pra cantar

O verso navega
Em grande e esplêndida bacia
Que engolfa e jorra venenos
Na margem no centro da vida

Distante o perfume das terras
Dos ventos das águas
O dom de voar

Escarros no encanto
Do canto
No verso machucado
Na dor da voz desafinada
As rimas nas correntes
Navegando

Em ondas mansas revoltas
Entre manchas vão soltas
Chorando a lagoa

Desertor
Silvio Rebello da Rosa e Otacílio Meirelles

Vento velas bordejar
Gaivotar neste mar

Barco leve sorrateiro
Proa forte rota firme
Um pontal de areias brancas
Fim de tarde desertor

Nuvem baixa traiçoeira
Rastejante derradeira

Tripulante combatente
Extasiado, louca intrusa
Que truncou a rota
E destroçou o sonho

A proa aponta o sol nascente
O céu azul manhã brilhante

Vento terra soprador
Velas ao largo singra o barco
Vai buscando o outro lado
O velejante sonhador

Birú, ilhota, roncador

Dança do terreiro
Otacílio Lopes Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

As ondas rolam mansas
Na cadência da sua dança
O gingado e o balanço dela
O vento é um apelo
Desprende os seus cabelos
Levanta a saia dela
Sanfona viola pandeiro
E dueto de voz afinada
A dança no terreiro
Os pares se roçando enlaçados
Abraços juras beijos
Meneios de coxas
Gingados de ancas
A dança recua avança balança
Em noite de lua e estrelas
Morena me puxa me cerca
Chega bolindo a barriga
No enlace me encosta os seios
Na roda sacode o compasso
Desmancha o candombe
Em meus braços
Desabrochando em anseios
Morena maneira fagueira
Remexe embala
Requebra as cadeiras
No achego no apego
A pele o suor
O cheiro o gosto a quentura
Os corpos perdidos
As bocas se achando
O desejo o prazer a loucura
Os pares rondando
Sonhando vagando
Em noite de lua e estrelas
Morena vai e vem encosta
Faz voltas me pega me solta
Eu pego o seu rastro no passo
Rodeia me enleia se enrosca
Sussurra e diz que me gosta
Perdido me encontro
Em seus braços
E a noite vai serena
A lua cai na morena
Estrelas nos olhos dela
Na sua ciranda tem manhas
Devaneios nos seus braços
Enlaço a cintura dela

Água doce
Otacílio Lopes Meirelles

Rabanada de dourado
Batendo no espinhel
Bagre cambado aos punhados
Subindo com a maré
Bem aqui neste costado
Aí mesmo onde da pé
Mastros velas mestras bujas
Bordejos panejos ventos
Horizonte no traquete
Larga escolha na mezena
Lagoa linda limpa livre
Águas claras brisa pura
Meu coração de água doce
Balança o balanço do mar
Ela hoje aprontou-se
Com jeito de quem vai navegar

Na água caí me encharquei
Na areia saí pra enxugar
O sol fez meu frio aquecer
A lua minha febre baixar
Um barco levou meu amor
No porto fiquei a chorar
O vento escutou minha dor
A brisa acalmou meu penar
Velho duca moço lembra fala
Moço duca velho fala lembra

Voga grumatã piava
Riscando as calmarias
Mantas de biru bem cedo
Tainha que reluzia
Abrindo junco logo ali
Por esta luz que me alumia
Pescador de pé na popa
Lugares prontos pesqueiros
A lua clareando as velas
Cantigas com parceiro
Olho longe peito perto
Riso dono lago inteiro

Pé ponta popa proa
Otacílio Lopes Meirelles

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

De ponta a proa atacou
Do barco saltei
Embaixo o casco encalhou
Num banco de areia
No pé a popa dançou
Com o remo calcei
Puxei balancei afrouxei
Tirei com uma cava e meia
Soltei o cabo ancorei
A bordo esperei maré cheia
As minhas redes soltei
Entre mantas de paixão
Malhas finas feiticeiras
Transpassadas de ilusão
De saudades eu malhei
Desenganos sei que não
Tinha pontos de amor
Enredei um coração
Linha de fundo atirei
No anzol tinha uma flor
Cá com carinho isquei
Lá com ternura pegou
No pé com calma tenteei

Na ponta correu levou
Uma sereia fez ondas
Nas croas do desertor
Gaivota um peixe pescou
Levou pra areia
Corvina correu entrou
Lagoa tá cheia
Biguá mergulhou voou
Tainha prateira
A bóia subiu baixou
Peixe bateu na parelha
Rebojo redemoinhou
Arrastando nuvens feias
A proa abrindo ondas
Na popa o vento rasgado
O barco buscando o porto
Entre o tempo carregado
Trovões rugindo ao longe
Nuvem negra céu fechado
Relâmpago no horizonte
Em frente o mar encrespado
E assim nas ondas vou solto
Deslizando as águas
Saudades que junto eu levo
Dos portos que passo
No peito amores perdidos
Amores roubados
Nos olhos fisgas de olhares
Malhas de abraços no braço

Versos de Itapoã a São José
Claúdio Boeira Garcia

Apresentação Instituto Estadual Cel.Patrício Vieira Rodrigues

Na corrida da tainha
Quando veio água do mar
Meu olho ficou pequeno
Pro peixe que eu vi matar

O siri mascou a rede
Na lagoa do barquinho
Quanto mais busco descanso
Mais trabalho em meu caminho

Por águas mandei recado
De Mostardas a Belém
Por águas me devolveram
As saudades de meu bem

Quando o bagre tá cambando
Os filhotes da lagoa
Pode ser que para o ano
A pesca volte a ser boa

A figueira criou barba
Os netos já são avô
E a cebola não deu preço
Pra quem nela trabalhou

O birú tá aprisionado
Nas grades da rede fina
Manduca caiu faceiro
Nas malhas da Carolina