Dança da Lagoa do Sol
José Waldir Souza Garcia
Carreta
Jorge Luis Ferreira e Manoel Acy Terres Vieira
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Janaíta
Cláudio Boeira Garcia, José Waldir Souza Garcia
Janaíta, sete irmãos
Janaíta, pai peão
Janaíta, não diz não
Janaíta, não diz não
Não digas não
Limpa os olhos
Mostra os dentes
Flor intacta, sol ardente
No galpão se fez mulher
O corpo fechado
Como rosa botão
Abriu-se inocente
Brotou no seu ventre
A condenação
Janaíta…
O corpo cansado
De andar mão em mão
O sorriso ensaiado
Perdeu-se com os dentes
Morreu a ilusão
Janaíta…
O rancho estragado
A mão sem tostão
És pasto amassado
És mate lavado
Açude esgotado
Açude esgotado
És forno sem pão
Janaíta…
Versos Perplexos
Cláudio Boeira Garcia e Jorge Luiz Ferreira
Folclore, o que é folclore?
Responda, mas trove bem
Não diga o que William Thoms
Não disse pra sempre amém
Folclore, o que é folclore?
É tempo que tempo tem
É morte que tem a vida
É vida sem morte amém
Folclore, o que é folclore?
Repentes que a história tem
O novo que ficar velho
Já velho nasceu também
Folclore, o que é folclore?
Críticos, que críticas tem
Palavras são só palavras
Que povo povo não tem
Folclore o que é folclore?
Cuidado que enganos tem
Sonidos que sonam sonsos
Cantares que não convém
Joguei minhas dúvidas
Nos braços de mil certezas
Nasceram mais estes versos
Nadando na correnteza
Folclore, meu bom amigo
É terra que terra tem
Um mundo muito pequeno
Que o mundo inteiro contém
Eu sou as dores do parto
Que a vida gritando vem
Um rastro de eternidade
Que o tempo plantando tem
Cheraçar Y Apacuy
Cláudio Boeira Garcia
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Gauchê
Claudio Boeira Garcia e José Rafael Koller
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Homens de Preto
Paulo Ruschel
Os homens de preto, os homens de preto,
os homens de preto
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
E o bicho coitado não pensa em nada
Só vai pela estrada direito a charqueadas
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto trazendo a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
E o bicho coitado não pensa em nada
Só vem pela estrada, vem, berrando, berrando,
vem berrando
O gado coitado, nasceu, foi marcado
Aí vai condenado na estrada berrando
A querência deixando
Os homens marvado empurrando e gritando
Toca boi, toca boi
O gado coitado, nasceu foi marcado
Aí vai condenado direto a charqueada
Mas manda a poeira no rumo de Deus
Berrando pra ele dizendo pra Deus
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Os homens de preto, empurrando a boiada
Vêm rindo, cantando, dando gargalhada
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez
Pedro Guará
Cláudio Boeira Garcia e José Cláudio Leite Machado
Num lamento, chegou o minuano
Anunciando o último inverno
E o orvalho chorou nas campinas
E o céu enlutou as estrelas
Pedro guára, sentia mais forte
Cheiro da terra, o vento, o do sul
Entrava no rancho, no calor do braseiro
Mateava a espera
Do tempo chegar
Pedro guára, viveu aragano
Camperiando manhãs distantes
E passando plantava alegria
O riso ficava quando partia
Pedro guára, partiu sem rastro
Fruto maduro, na volta pra terra
Rasgando um riso
Seu último gesto
Sumiu da serra
Não vai mais cantar
Barqueiro
Cláudio Boeira Garcia
Barqueiro da lagoa grande
Tão bela como o mar
Teus dias nos braços das ondas
Nas noites as areias
Um leito de amor
Barqueiro das lagoa grande
Que fala e sabe escutar
Companheira dia e noite constante
De quem traz por sina
Navegar e pescar.
Canto da Gente
Álvaro Barbosa Cardoso e José Waldir Souza Garcia
Vou levando minha vida
Em passo de espera
Semente plantada
No seio da terra
Povoa meus sonhos
De quera gaudério.
Canto o canto da gente
Que pode ser crente
Se mesmo perder
Canto o canto da gente
Que lança a semente
E pode colher
Dedilho a viola
Espanto a tristeza
Esqueço meu pranto
E sinto na noite
No cheiro do pampa
O suor da minha gente
Na força do canto
Canto o canto da gente
Que sabe o que sente
Na vida o perder
Canto o canto da gente
Que leva na mente o amanhecer.
Continente Americano
Cláudio Boeira Garcia
Continente Americano
Coração gosto de sal
Quantas noites de esperança
Quantos séculos de distância
Que o irmão não diz bom dia
Que a mãe não vive em paz.
Continente Americano
Coração gosto de sal
Eu sonhei com toda América
Irmã gêmea, muito igual
Acordei mal humorado
Com a verdade desigual
Continente Americano
Coração gosto de sal
Nesta pele, multicores
Neste ventre, mineral
Nos calores do aconchego
Ouço um grito matinal.
Continente americano
Coração gosto de sal.