Estações das Águas

De amores
Otacílio Meirelles

A onda rolou dançou
Com meu amor eu rodei
A maré subiu baixou
Nos teus braços naveguei

O sol nasceu clareou
Nos teus olhos eu me vi
A bruma abriu fechou
Na tua mão me perdi

Vento veio assobiou
De alegria eu cantei
A chuva caiu molhou
No teu corpo naufraguei

A lua cresceu minguou
No teu peito eu dormi
A brisa gemeu chorou
De amores eu morri

Arroio Lindo
Otacílio Meirelles

Teus Olhos
Otacílio Meirelles e Miguel Luiz

Olhos longe horizontes
Barcos velas seguem orças
A bombordo a boreste
Nos teus olhos meu amor

Águas doces cristalinas
As verdes águas salinas
Nos teus olhos de menina
Lua nova lua cheia
Faz ressaca faz marés
Nos teus olhos de mulher

Olhos longe horizontes
Barcos velas sotavento
Vento largo barlavento
Nos teus olhos meu amor

Brisa mansa vento bravo
Praia à dentro praia à fora
Nos teus olhos de senhora

Mar fechado mar aberto
Bate as ondas vão-se as vagas
Nos teus olhos rasos d’água

Olhos longe horizontes
Barcos velas cruzam nuvens
Vão zarpando aportando
Nos teus olhos meu amor

Luz de estrelas paz de auroras
Céu turquesa sol brilhante
Nos teus olhos de amante

Noites claras noites turvas
Calmarias tempestades
Nos teus olhos de saudades

Pé ponta popa proa
Otacílio Lopes Meirelles

De ponta a proa atacou
Do barco saltei
Embaixo o casco encalhou
Num banco de areia
No pé a popa dançou
Com o remo calcei
Puxei balancei afrouxei
Tirei com uma cava e meia
Soltei o cabo ancorei
A bordo esperei maré cheia
As minhas redes soltei
Entre mantas de paixão
Malhas finas feiticeiras
Transpassadas de ilusão
De saudades eu malhei
Desenganos sei que não
Tinha pontos de amor
Enredei um coração
Linha de fundo atirei
No anzol tinha uma flor
Cá com carinho isquei
Lá com ternura pegou
No pé com calma tenteei

Na ponta correu levou
Uma sereia fez ondas
Nas croas do desertor
Gaivota um peixe pescou
Levou pra areia
Corvina correu entrou
Lagoa tá cheia
Biguá mergulhou voou
Tainha prateira
A bóia subiu baixou
Peixe bateu na parelha
Rebojo redemoinhou
Arrastando nuvens feias
A proa abrindo ondas
Na popa o vento rasgado
O barco buscando o porto
Entre o tempo carregado
Trovões rugindo ao longe
Nuvem negra céu fechado
Relâmpago no horizonte
Em frente o mar encrespado
E assim nas ondas vou solto
Deslizando as águas
Saudades que junto eu levo
Dos portos que passo
No peito amores perdidos
Amores roubados
Nos olhos fisgas de olhares
Malhas de abraços no braço

A lagoa
Cláudio Boeira Garcia e Otacílio Meirelles

Rios sangas
Caracóis seixos

Na margens ecoa
O grito do jaçanã
O canto das tarrãs
O lamento do urutau

Orquídeas figueiras
Cachos butiazais
Enseadas areais
Aguapés juncais

Entre espumas e conchas
Águas vazantes enchentes
A gaivota pousa voa

Cercando as ilhas
O revoar das garças
O ronco dos cisnes
O rasante dos biguás

Cristalinas vertentes
Palmas coqueirais
Ressacas remansos
Brisas brumas

Entre ventos e ondas
Praias croas correntes
A gaivota pousa voa

Perguntas
Letra: Cláudio Boeira Garcia. Música: Airton Kickhöfel Madeira, Otacílio Meirelles e Ronaldo Ramos Linck

Um dia me perguntei
Porque ser eu pescador
Se sina de pai pra filho
Se de Deus nosso senhor

Procurei na estrela mais bela
Na figueira mais antiga
Nas areias brancas da praia
Nos versos de todas as cantigas

O vento mudou de rumo
O peixe voltou pro mar
O barco virou carcaça
E eu sempre a me perguntar

Dança no terreiro
Otacílio Lopes Meirelles

As ondas rolam mansas
Na cadência da sua dança
O gingado e o balanço dela
O vento é um apelo
Desprende os seus cabelos
Levanta a saia dela
Sanfona viola pandeiro
E dueto de voz afinada
A dança no terreiro
Os pares se roçando enlaçados
Abraços juras beijos
Meneios de coxas
Gingados de ancas
A dança recua avança balança
Em noite de lua e estrelas
Morena me puxa me cerca
Chega bolindo a barriga
No enlace me encosta os seios
Na roda sacode o compasso
Desmancha o candombe
Em meus braços
Desabrochando em anseios
Morena maneira fagueira
Remexe embala
Requebra as cadeiras
No achego no apego
A pele o suor
O cheiro o gosto a quentura
Os corpos perdidos
As bocas se achando
O desejo o prazer a loucura
Os pares rondando
Sonhando vagando
Em noite de lua e estrelas
Morena vai e vem encosta
Faz voltas me pega me solta
Eu pego o seu rastro no passo
Rodeia me enleia se enrosca
Sussurra e diz que me gosta
Perdido me encontro
Em seus braços
E a noite vai serena
A lua cai na morena
Estrelas nos olhos dela
Na sua ciranda tem manhas
Devaneios nos seus braços
Enlaço a cintura dela

Trolha
Otacílio Meirelles

O motor batendo
No bote o traquete
Vai estendendo um arco
O barco
De bom toso
Boca larga
Vem rangendo vem

Puxa a ponta
A trolha vem
Vem tremente vem
Vem cercando vem
Vem de arrasto vem
Vem chegando vem

Miragaia
Linguado badejo
Pampo caçonete tainha
Bagre guri
Camarão siri
Sardinha savelha corvina
Vem vem vem…

Voga mandim
Traíra viola
Cascote tambica piava
Papa-terra
Grumatã pintado
Peixe-rei dourado joana
Vem vem vem…

Vem chegando vem
Piracema
Vem chegando vem
Piracema
vem chegando vem
Piracema…

Versos de Itapoã a São José
Claúdio Boeira Garcia

Na corrida da tainha
Quando veio água do mar
Meu olho ficou pequeno
Pro peixe que eu vi matar

O siri mascou a rede
Na lagoa do barquinho
Quanto mais busco descanso
Mais trabalho em meu caminho

Por águas mandei recado
De Mostardas a Belém
Por águas me devolveram
As saudades de meu bem

Quando o bagre tá cambando
Os filhotes da lagoa
Pode ser que para o ano
A pesca volte a ser boa

A figueira criou barba
Os netos já são avô
E a cebola não deu preço
Pra quem nela trabalhou

O birú tá aprisionado
Nas grades da rede fina
Manduca caiu faceiro
Nas malhas da Carolina

Entre o mar e o pampa
Cláudio Boeira Garcia

No ancoradouro dos juncais
Um olhar no amanhecer
Se estendeu brilhando
Nos verdes dos arrozais

Águas e campos
Dumas e montes
Abrindo horizontes
Desvendou as nuvens
Desbravou os ventos

Buscou os remansos
Se entregou praia à fora
Misturou-se às ondas
Se perdeu nas auroras
Divisou as águas
Navegou as correntes
Demarcou as estrelas
Ancorou nas lonjuras

Cheiro das algas
Perfume dos pastos
Sentindo a vida
Escolheu encostas
Deitou junto a brisa

Nativo amante
Praia barco areal
Cantando na noite
Despertou a lua
Fez o sol chegar

Buscou os remansos
Se entregou praia afora
Misturou-se às ondas
Se perdeu nas auroras
Divisou as águas
Navegou as correntes
Demarcou as estrelas
Ancorou nas lonjuras

Sinais
Otacílio Meirelles

Ir lançar as redes
Cada vez mais lá
Sumir nas águas
Cada vez mais lá
Homens de olhos cansados
De singrar o mar

Ir a colher as redes
Cada vez mais lá
Nascer das águas
Cada vez mais lá
Homens de olhos cansados
Dos confins do mar

Todas as madrugadas
Nas noites turvas
Do ancoradouro
Estudam o tempo
O rolar das ondas
O rumo dos ventos

O aviso das nuvens
Os sinais das estrelas
Segredos e saber
Revelados na hora
De partir pro mar

Pode uma reviravolta
Turvar as águas
Apagar a vista
Desnortear a rota
Agitar os ventos
Revoltar as ondas
Avariar o barco
Naufragar a volta
Fé e respeito
É sagrado na hora
De partir pro mar

A dor do poema
Cláudio Boeira Garcia e Otacílio Meirelles

Rebelde e cansado
Verso entranhado
Nas correntezas

Escorrem as águas
A viola rola nas manhãs
Os poemas aquecidos no sol
Ferem as noites
A lua as estrelas

Distante a rima que quero
O tom que procuro
A voz pra cantar

O verso navega
Em grande e esplêndida bacia
Que engolfa e jorra venenos
Na margem no centro da vida

Distante o perfume das terras
Dos ventos das águas
O dom de voar

Escarros no encanto
Do canto
No verso machucado
Na dor da voz desafinada
As rimas nas correntes
Navegando

Em ondas mansas revoltas
Entre manchas vão soltas
Chorando a lagoa

Felícia
Cláudio Boeira Garcia e Otacílio Meirelles

Feliz Felícia
Forte Felícia
Frágil Felícia
Canta Felícia
Chora Felícia
Sonha Felícia
Vive Felícia

Bóia fria
Pau pra toda obra
Cerca viva
Rosa na janela

Meia-água
Parede e meia
Pés na areia
Mãos tecendo redes

Mãe de todos
Ombro pra chorar
Dedo em riste
Olho de rainha

Faz a lida
O peixe charqueado
Lava a roupa
Cuida a vida

Verão
Cláudio Boeira Garcia

Sussurros
Na imensidão das águas
Desenhos de algodão
Azul azul
A brisa a pele
Lábios cristais
Verão
Beijos quentes sol
Suores gosto sal
Cálices de mel
Brindes com o mar
Navegar navegar navegar

Murmúrios
Na amplidão dos olhos
Segredos da paixão
Azul azul
A brisa a pele
Lábios cristais
Verão
Beijos quentes sol
Suores gosto sal
Cálices de mel
Brindes com o mar
Navegar navegar navegar

Teus olhos
Otacílio Meirelles e Miguel Luiz Buchaim

Olhos longe horizontes
Barcos velas seguem orças
A bombordo a boreste
Nos teus olhos meu amor

Águas doces cristalinas
As verdes águas salinas
Nos teus olhos de menina
Lua nova lua cheia
Faz ressaca faz marés
Nos teus olhos de mulher

Olhos longe horizontes
Barcos velas sotavento
Vento largo barlavento
Nos teus olhos meu amor

Brisa mansa vento bravo
Praia à dentro praia à fora
Nos teus olhos de senhora

Mar fechado mar aberto
Bate as ondas vão-se as vagas
Nos teus olhos rasos d’água

Olhos longe horizontes
Barcos velas cruzam nuvens
Vão zarpando aportando
Nos teus olhos meu amor

Luz de estrelas paz de auroras
Céu turquesa sol brilhante
Nos teus olhos de amante

Noites claras noites turvas
Calmarias tempestades
Nos teus olhos de saudades