Os Tapes
Cantares, 1982

Versos de Itapoã à São José
Claúdio Boeira Garcia

Na corrida da tainha
Quando veio água do mar
Meu olho ficou pequeno
Pro peixe que eu vi matar

O siri mascou a rede
Na lagoa do barquinho
Quanto mais busco descanso
Mais trabalho em meu caminho

Por águas mandei recado
De Mostardas a Belém
Por águas me devolveram
As saudades de meu bem

Quando o bagre tá cambando
Os filhotes da lagoa
Pode ser que para o ano
A pesca volte a ser boa

A figueira criou barba
Os netos já são avô
E a cebola não deu preço
Pra quem nela trabalhou

O birú tá aprisionado
Nas grades da rede fina
Manduca caiu faceiro
Nas malhas da Carolina

Olegário
Otacílio Meirelles

Lá vai Olegário
Arquejando pelas sombras
Vem de rotas perdidas
Sem forças, remos e velas

Lá vai Olegário
Malhas de rede no rosto
Escamas e barbatanas nas mãos
Tranças e amarras no andar
Fisgadas de anzóis no coração
Ondas de morte no corpo
Marés de angústia abordando o leito
Junto a velha companheira
Que lhe esquenta e afumenta o peito

Quem há de um dia chegar
Por onde estes braços pescaram
Quem haverá de olhar
O peixe que estes olhos olharam

Virgenes del Sol
Jorge Bravo de Rueda

***

Um Doutor
Cláudio Boeira Garcia

Um doutor lá da cidade
Já comprou as minhas terra
Vou pegar minhas muchila
Digo adeus triste pra serra

Nós tamo ficando velho
Os filho foi pra cidade
E o trabalho é muito forte
Pro peso da nossa idade

Vendi cerro e estufa
Vendi vaca e moinho
Mas não vendo essa dor
De sair do meu cantinho

O filho em Viamão
A filha tá em Niterói
Os neto tão muito longe
E a saudade sempre dói

Quem me dera que o doutor
Me pague bom dinheirinho
Pois que a vida da cidade
Come tudo ligeirinho

Um doutor daqui gostou
Quer aqui pra descansar
Nós aqui não tem descanso
Passa a vida a trabalhar

Mazurca
Domínio Público. Recolhida e adaptada p/ Os Tapes

***

Canción Para Despertar Un Negrito
Nicolás Guillén e Cesar Isella

Una paloma cantando pasa
Upa mi negro que el sol abrasa
Ya nadie duerme ni esta en su casa
Ni el cocodrilo ni la yeguaza
Ni la culebra ni la torcaza
Coco cacao, cacho cachaza
Upa mi negro que el sol abrasa
Negraso venga con su negrasa
Aire con aire que el sol abrasa
Aire con aire que el sol abrasa
Mire la gente, llamando pasa
Gente en la calle, gente en la plaza
Ya nada duerme ni esta en su casa
Negro, negrito, ciruela y pasa
Salga y despeirte que el sol abrasa
Diga despierto lo que le pasa

Tema do sabiá
Claudio Boeira Garcia, Darci Dias Pacheco, José Arthur Rebello, José Julio Prestes, Manoel Acy Terres Vieira

***

Zamba sem porto
Cláudio Boeira Garcia

Se foi o barco
Com as esperanças
Foram-se as redes
E o madrugador

Qual
Barco sem leme
Igual
Pano sem tralha

Em caminhos
De ondas
De ventos
De solidão

Naufrago proeiro
Dum barco pequeno
Em tanta distância
Dum porto ilusão

Adeus as águas
Turvas lembranças
Olho mareado
Do navegador

El condor pasa
(Domínio Público) – Recolhido por Daniel Alomia Robles e adaptada p/ Os Tapes

***

Soneto 93
Pablo Neruda e Cesar Isella

Si alguna vez tu pecho se detiene
Si algo deja de andar ardiendo por tu venas
Si tu voz en tu boca se va sin ser palabra
Si tus manos se olvidan de volar y se duermen
Matilde amor deja tus labios entreabiertos
Porque este último beso deve durar comigo
Debe quedar imovil para siempre en tu boca
Para que así también me acompañe en mi muerte
Me moriré besando tu loca boca fría
Abrazando al racimo perdido de tu cuerpo
Y buscando la luz de tus ojos cerrados, de tus ojos cerrados
Y así cuando la tierra reciba nuestro abrazo
Iremos confundidos en una sola muerte
A vivir para siempre la eternidad de un beso
Matilde amor, Matilde amor, Matilde.

Marcha do Emboada
Correia da Cunha

***