Na região de Tapes, com a chegada de nossos ancestrais dos açores no século 18, chegaram as Cantorias de Reis. Variações melódicas, de entonação e de formação dos grupos à parte, ninguém perguntava de onde provinha o costume de cada final de ano, renovar e esticar os coros dos tambores, reservar um tempo de ensaios com mestres, cantores e instrumentistas das vizinhanças ou até de mais distâncias, para repassar versos e vozes dos Ternos de Reis. Tempo de preparo, entre outros, dos obrigatórios doces do Natal, entre os quais se destacavam doces o de figo e de abóbora em calda. Entre 26 de janeiro até o dia 06 de fevereiro os Ternos apareceriam para cantar e festejar o nascimento de Cristo e a visita dos reis do Oriente. O Mestre era quem puxava a cantoria, que aqui em Tapes, se perfazia por versos repetidos em terça por um duo, em geral encarregados do pandeiro e do estribo. Tapenses de minha geração cujas famílias cultuavam a tradição do Terno De Reis, em cuidada etiqueta, o Mestre que executava a Gaita ponto e dirigia a cantoria, retinha na memória e capacidade entoar e improvisar tantos versos quantos necessários, até que a gentileza ou judiação dos donos da casa atendessem os pedidos de Porta Aberta. Em geral, sobretudo, em casos de Ternos prestigiados por suas notórias virtudes musicais, a “judiação” era prolongada até que cantassem o infalível verso, com apelos às donas da casa, que ameaçava a retirada caso a porta não fosse aberta. Em nossas infâncias em Tapes nas décadas 40 e 50 e 60 ainda era tão seguro que Ternos cantariam nestas datas como era fato que depois da noite amanhecia. Em nosso Festa de Reis, nos inícios dos anos 80, com a primeira parte com iluminação quase zero, simulando a falsa escuridão das casas, nos postamos no palco, como se estivéssemos no terreiro e a casa com luzes apagadas o auditório. Uma vez encerrada a cantoria na plateia iluminada, cantando e dançamos músicos e plateia celebrando alegrias que a vida e encontros propiciam.
🔈 Áudios já catalogados de apresentações ao vivo de Festa de Reis, serão disponibilizados à medida que sejam processados.
Letras
Cantoria de Chegada
Melodia de um Terno de Itapuã/RS (Domínio Público.) Versos Recolhidos em Itapuã, Tapes e Barão do Triunfo.
Agora mesmo cheguemo
Na beira do seu terreiro
Para tocar e cantar
Licença peço primeiro
Agora mesmo cheguemo
Nesta noite de alegria
Viemos fazer visita
Pra toda a sua família
Meu senhor dono da casa
Queira nos adesculpar
Se hay doença ou sentimento
Mande nos arretirar
Meu senhor que está dormindo
Nesta sua casa adorada
Se alevante nesta hora
Venha ver nossa chegada
Os Três reis por serem santos
Se puseram a caminhar
Prá chegar em Belém
Antes do galo cantar
Faz três noite que andemo
No rumo da estrela guia
Procurando Jesus Cristo
Filho da Virgem Maria
Acordai se estás dormindo
Acordai não durma tanto
Acordai pra ver cantar
Os três reis que foram santo
Oi de casa, oi casa santa
Oi de casa, oi casa bela
Venha dar o nosso reis
Todos que tão dentro dela
Meu senhor da casa
Alevante acenda a luz
Abra a porta da morada
Nos faça o sinal da cruz
Porta aberta, luz acesa
Sinal de muito alegria
Venha nos arreceber
Com toda sua família
Este é o último verso
Que meu terno vai cantar
Se é que o terno merece
Queira nos mandar entrar
Dores de Camaquã
Arlindo do Carmo (Grupo da Vila – Vide Não Tá Morto)
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Milonga
(Domínio Público) – Recolhida e adaptada p/ Os Tapes
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Vírgenes del Sol
Moises Vivanco
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Cholas Y Cholitos
Anônimo Recolhido por Jaime Torres e Ariel Ramirez
Ya llegan las fiestas de los carnavales
Se dijo alegrar-se curar-se los males
Cholas y cholitos bailan muy contentos
Declaran la guerra, declaran la guerra
A los sufrimientos
Bom bom bom suena el bombo
Er er er suena el erque
Huy huy huy suena el violin
Todos a cantar, todos a bailar
Hastas desmayar
Se ha perdido un niño en la muchedumbre
Comerse las uñas tiene por costumbre
Cholas Y cholitos lo andaran Buscando
Pantalones cortos, pantalones cortos
Calzoncillos largos.
Marcha do Emboaba
Correia da Cunha (Grupo da Vila – Vide Não Tá Morto)
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Terno da Vila Dores de Camaquã
João Gonçalves Montenegro
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Canto da Gente
Álvaro Barbosa Cardoso e José Waldir Souza Garcia
Vou levando minha vida
Em passo de espera
Semente plantada
No seio da terra
Povoa meus sonhos
De quera gaudério.
Canto o canto da gente
Que pode ser crente
Se mesmo perder
Canto o canto da gente
Que lança a semente
E pode colher
Dedilho a viola
Espanto a tristeza
Esqueço meu pranto
E sinto na noite
No cheiro do pampa
O suor da minha gente
Na força do canto
Canto o canto da gente
Que sabe o que sente
Na vida o perder
Canto o canto da gente
Que leva na mente o amanhecer.
Mazurca
(Domínio Público) – Recolhida e adaptada p/ Os Tapes
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Versos de Itapuã a São José
Cláudio Boeira Garcia
Na corrida da tainha
Quando veio água do mar
Meu olho ficou pequeno
Pro peixe que eu vi matar
O siri mascou a rede
Na lagoa do barquinho
Quanto mais busco descanso
Mais trabalho em meu caminho
Por águas mandei recado
De Mostardas a Belém
Por águas me devolveram
As saudades de meu bem
Quando o bagre tá cambando
Os filhotes da lagoa
Pode ser que para o ano
A pesca volte a ser boa
A figueira criou barba
Os netos já são avô
E a cebola não deu preço
Pra quem nela trabalhou
O birú tá aprisionado
Nas grades da rede fina
Manduca caiu faceiro
Nas malhas da Carolina
Las Puntas del Camino
Carlos M. Ocampo e Osvaldo Rocha
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Polka do Tio Göis
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Versos Populares
(Domínio Público) – Recolhida e adaptada p/ Os Tapes
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Serrote Rancheira
(Domínio Público) – Recolhida e adaptada p/ Os Tapes
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Vanera
(Domínio Público) – Recolhida e adaptada p/ Os Tapes
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Trinta Anos
João Prass e Jorge Raab
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Cantoria de Agradecimento
(Domínio Público) Melodia de Ternos de Tapes. Versos Recolhidos em Itapuã, Tapes e Barão do Triunfo.
Amigo dono da casa
Observe o meu dizer
Eu quero a sua licença
Pro meu terno agradecer
O meu terno se despede
Até o ano que vem
Meu senhor até a volta
Até a volta e passe bem
Meu terno vai simbora
Vai fazer a retirada
Deseja felicidade
Pra todos dessa morada
O meu terno se despede
Com amor e alegria
Agradecemos o senhor
E toda sua família
Obrigado pelos reis
Dado de boa mente
Nossa Senhora lhe ajude
Outros bens lhe acrescente
Obrigado pelos reis
Dado de boa vontade
Nossa Senhora lhe ajude
Deus lhe dê felicidade
Vamos dar a despedida
Como deu a estrela do norte
Pros casados boa vida
Pros solteiros boa sorte
Quem lhe pague pelos reis
Lá no céu há de encontrar
Uma cadeira de ouro
Para nela se sentar
Esse terno se despede
Até o ano que vem
Boa noite, boa gente
Boa noite, passe bem
Esse é o último verso
Que meu terno vai cantar
O dia tá clareando
Vamo nos retirar