Retrospectiva I – Cantos e Andanças (1979 -1981)

Para celebrar os oito anos de existência do grupo criamos a Retrospectiva1 constituída por seleção de composições nossas e de outros autores. Com esta retrospectiva nos apresentamos, por aproximadamente dois anos, em cidades do Rio Grande do Sul e, em algumas do Oeste e do Leste de Santa Catarina.

Letras

Dança da Lagoa do Sol
José Waldir S. Garcia

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Cheraçar Y Apacuy
Cláudio Boeira Garcia

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Milonga
Domínio Público. Recolhida e adaptada p/ Os Tapes

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Barqueiro
Cláudio Boeira Garcia

Barqueiro da lagoa grande
Tão bela como o mar
Teus dias nos braços das ondas
Nas noites as areias
Um leito de amor

Barqueiro das lagoa grande
Que fala e sabe escutar
Companheira dia e noite constante
De quem traz por sina
Navegar e pescar.

Carreta
Jorge Luis Ferreira e Manoel Acy Terres Vieira

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Continente Americano
Cláudio Boeira Garcia

Continente Americano
Coração gosto de sal

Quantas noites de esperança
Quantos séculos de distância
Que o irmão não diz bom dia
Que a mãe não vive em paz.

Continente Americano
Coração gosto de sal

Eu sonhei com toda América
Irmã gêmea, muito igual
Acordei mal humorado
Com a verdade desigual

Continente Americano
Coração gosto de sal

Nesta pele, multicores
Neste ventre, mineral
Nos calores do aconchego
Ouço um grito matinal.

Continente americano
Coração gosto de sal.

Mazurca
Domínio Público. Recolhida e adaptada p/ Os Tapes

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Janaíta
Cláudio Boeira Garcia, José Waldir Souza Garcia

Janaíta, sete irmãos
Janaíta, pai peão
Janaíta, não diz não
Janaíta, não diz não

Não digas não
Limpa os olhos
Mostra os dentes
Flor intacta, sol ardente
No galpão se fez mulher

O corpo fechado
Como rosa botão
Abriu-se inocente
Brotou no seu ventre
A condenação

Janaíta…

O corpo cansado
De andar mão em mão
O sorriso ensaiado
Perdeu-se com os dentes
Morreu a ilusão

Janaíta…

O rancho estragado
A mão sem tostão
És pasto amassado
És mate lavado
Açude esgotado
Açude esgotado
És forno sem pão

Janaíta…

Pedro Guará
Cláudio Boeira Garcia e José Cláudio Leite Machado

Num lamento, chegou o minuano
Anunciando o último inverno
E o orvalho chorou nas campinas
E o céu enlutou as estrelas

Pedro guára, sentia mais forte
Cheiro da terra, o vento, o do sul
Entrava no rancho, no calor do braseiro
Mateava a espera
Do tempo chegar

Pedro guára, viveu aragano
Camperiando manhãs distantes
E passando plantava alegria
O riso ficava quando partia

Pedro guára, partiu sem rastro
Fruto maduro, na volta pra terra
Rasgando um riso
Seu último gesto
Sumiu da serra
Não vai mais cantar

Serrote Rancheira
Domínio Público. Recolhida e adaptado p/ Os Tapes

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Canto da Gente
Álvaro Barbosa Cardoso e José Waldir Souza Garcia

Vou levando minha vida
Em passo de espera
Semente plantada
No seio da terra
Povoa meus sonhos
De quera gaudério.

Canto o canto da gente
Que pode ser crente
Se mesmo perder
Canto o canto da gente
Que lança a semente
E pode colher

Dedilho a viola
Espanto a tristeza
Esqueço meu pranto
E sinto na noite
No cheiro do pampa
O suor da minha gente
Na força do canto

Canto o canto da gente
Que sabe o que sente
Na vida o perder
Canto o canto da gente
Que leva na mente o amanhecer.

Cantigas de Quicumbi
Domínio Público – Recolhido por Norton F. Corrêa (Rio Pardo/RS) adaptada p/ Os Tapes

Ó virge da Conceição
Sarabuê, sarabuê, sarabuá
Oi abre a roda meus dançantes
Oi óia a ronca da puíta
Arripinica o tambor mor
Oi óia aquele que tá oiando
Ele é o fio do rei
Um viva prá nosso rei
Também prá nossa rainha

Bem te vi de rosa
Sua benção me bote
É do pai é do fio, meu sinhô
É do espriti santi

Ô caiela, senhora chamô
Pergunte à caiela se a guerra já chegô

Deus te salve
Esta casa santa
Senhora dona, rainha dos anjos
O senhora, doce vizinha
Senhora dona, rainha dos anjos

Canana-nuê, chora, chora
canana-nuê, já chorô
Nhê!

Sarabuê, sarabuá
Oi abre a roda meus dançantes
Oi óia o ronco da puíta
Arripinica o tambor-mor
Oi aquele que tá oiando
Ele é fio do rei
Um viva pro nosso rei
E também prá nossa rainha

Esta casa cheira, cheira a cravo e rosa
Esta casa cheira, meu sinhô
A flor de laranjeira

Cantigas de Maçambique
Domínio Público – Recolhido por Norton F. Corrêa – Adaptado p/ Os Tapes

Marcha São Bento, São Bento marcha
Marcha São Bento
Ê… Marchô! Marchô! Marchô!
Com sua infantaria e o rosário de Maria

Oi capitão da bandeira saia para fora
Com sua ordenança e vamos embora

Oi que rua tão compridá
Toda cheia de pedrinhá
Tenho medo de cair lá
É o rosário de Mariá

Nossa senhora nos mandou recado
Que nos fosse cantado Bendito louvado
O Bendito louvado de Santa Custódia
Oi rainha dos anjos estrela da glória

Minha virgem senhora mande acarmá o vento
Minha virgem senhora mande acarmá o vento
Que lá vai o rosário senhor por esta porta
Que lá vai o rosário senhor por esta porta

Oi nossa rainha saia pra fora
Com sua ordenança e vamo-nos embora

Oia lá manco, manco pisa devagá
Coro oi pisa devagá
Lá na porta do céu tu não vai trupicá

Nossa senhora acorda Mariá
Nossa senhora acorda Mariana
Oi para os instrumentos quicumbi real

O nosso rei congo pisa devagá
Que a rainha ginga não pode avoar
Ai vamo-nos embora e não fica ninguém
Que a virgem do Rosário vai com nós também
Oi anda vossa porta que vai vai Jesus
Aí com os braços abertos cravados na cruz

A canoa virou lá no tombo do mar
Deixa virá – deixa virá
E porque deixaste a canoa virá
Oi de boca pra baixo e de fundo pro ar
Tu quebraste os remos tu tem que pagá
Óia mamãezinha sinhô como está
Eu ti dei uma camisa e tornei a tirá

Ô samba Jesus
Ô sambo Jesus
óia o lado de cá
Oi vamo na praia apanha caranguejo
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é
Sambô Jesus
Óia lado de lá
Olê olá olê olá
Ô sambo Jesus
Óia lado de cá
Ô sambo Jesus
É de matirindá

Eu quero ver menina

Sacristão me abre a porta da capela
Eu quero rezar uma oração

Tá croado e bem croado nosso grande imperador
Tá com croa na cabeça, croa de nosso senhor

Ói lá vem o festeiro do dia
Com sua infantaria e o Rosário de Maria

Eu vou mimbora eu quero dar a dispedida
Eu quero voltar outra vez.